Trinta minutos sobre a Broadway!

A última aventura de Jetboy!

Por Howard Waldrop

O Bonham’s Serviços Aéreos de Shantak, Nova Jersey, estava às moscas. A pequena luz na torre de vigília mal atravessava a escuridão da névoa densa.
Deu-se o som de pneus de carros no cimento úmido em frente ao hangar 23. Uma porta de automóvel se abriu e se fechou momentos depois. Passos se dirigiram à entrada de funcionários. Ela se abriu. Scoop Swanson entrou, carregando sua Kodak Autograph Mark II e uma bolsa de lâmpadas e filmes.
Lincoln Traynor se levantou do motor do P-40 que estava adaptando para um piloto que o conseguira num leilão por 293 dólares. Julgando pelo formato do motor, devia ter voado pelos Tigres Voadores em 1940. Um jogo de beisebol era narrado no rádio da bancada. Linc abaixou o volume.
- Olá, Linc. – disse Scoop.
- Olá.
- Nenhuma notícia ainda?
- Não espere nenhuma. O telegrama que ele enviou ontem dizia que ele estaria aqui essa noite. Bom o bastante para mim.
Scoop acendeu um Camel com uma caixa de fósforos Três Tochas da bancada. Assoprou fumaça na direção da placa de Proibido Fumar no fim do hangar. – Ei, o que é isso? – Ele caminhou até os fundos. Ainda em suas caixas estavam duas longas extensões vermelhas e dois tanques de 300 galões. – Quando isto chegou?
- A Corporação Aérea as despachou ontem de São Francisco. Chegou outro telegrama para ele hoje. Você pode ler, já que você está escrevendo a história. – Linc lhe entregou as ordens do Departamento de Guerra.

PARA: Jetboy (Tomlin, Robert NMI) Bonham’s Serviços Aéreos, Hangar 23, Shantak, Nova Jersey.
1. Efetivamente nesta data 1200 horas 12 ago ’46, você está dispensado do serviço oficial da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos.
2. Sua aeronave (modelo-experimental) (ser. nº JB-1) está dessa forma descomissionada do status oficial da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos e devolvida a você como aeronave privada. Nenhum outro suporte material da FAEEU ou do Departamento de Guerra será enviado.
3. Relatórios, recomendações e prêmios seguem em volume separado.
4. Nossos relatórios mostram que Tomlin, Robert NMI não obteve licença de pilotagem. Favor contatar CAB para cursos e certificação.
5. Céus limpos e vento na cauda,
Arnold, H. H. CdeE, FAEEU ref. Ordem Executiva #2 08 Dez ’41.

- Que história é essa de ele não ter licença de piloto? – perguntou o jornalista. – Eu pesquisei a fundo sobre ele: a ficha dele deve ter uns trinta centímetros de espessura. Diabos, ele deve ter voado mais rápido e mais longe e derrubado mais aviões que qualquer um. Quinhentos aviões, cinqüenta navios! Ele fez tudo isso sem uma licença de piloto?
Linc limpou a graxa de seu bigode. – É. Era o garoto mais louco por aviões que você já viu. Em ’39, ele não devia ter mais que doze anos e ouviu dizer que havia trabalho por aqui. Apareceu às quatro da manhã: fugiu do orfanato pra conseguir isso. Eles vieram buscá-lo, mas claro que o Professor Silverberg acertou as contas com eles e contratou o garoto.
- Silverberg é o cara que os Nazistas apagaram? O que fez o jato?
- É. Anos à frente de todo mundo, mas esquisito. Eu montei o avião para ele, Bobby e eu o construímos com nossas mãos. Mas Silverberg fez os jatos, a maquinaria mais incrível que você já viu. Os Nazistas e os Italianos, além de Whittle na Inglaterra, estavam fazendo os seus. Mas os Alemães descobriram que alguma coisa estava acontecendo aqui.
- Como o garoto aprendeu a voar?
- Eu acho que ele sempre soube. – disse Lincoln. – Um dia ele está aqui me ajudando a torcer metal. No outro, ele e o professor estão voando por aí a quatrocentas milhas por horas. No escuro, com as primeiras versões do motor.
- Como eles mantiveram o segredo?
- Não mantiveram, não muito bem. Os espiões vieram atrás de Silverberg. Queriam ele e o avião. Bobby havia saído com ele. Acho que ele e o professor sabiam que estava acontecendo alguma coisa. Silverberg deu um bom trabalho aos Nazistas e eles o mataram. Depois resolveram tudo com uma dessas sujeiras diplomáticas. Naqueles tempos o JB-1 só tinha seis calibres 0.30... Onde o professor os conseguiu eu não sei. Mas o garoto os usou para dar cabo do carro cheio de espiões e daquela lancha cheia de embaixadores no Hudson. Todos com vistos diplomáticos.
- Só um instante – Linc fez uma pausa. – Fim de dobradinha em Cleveland. Na Blue Network. – Ele aumentou o rádio Philco de metal que repousava sobre a bancada de trabalho.
- Sanders para Papenfuss para Volstad, uma jogada dupla. Isso deve resolver. Então os Sox perdem por dois para Cleveland. Vamos ficar bem… - Linc desligou o radio. – Lá se vão cinco pratas. – ele disse. – Onde eu estava?
- Os Chucrutes mataram Silverberg e Jetboy acertou as contas. Ele foi para o Canadá, certo?
- Se uniu à FARC, não-oficialmente. Lutou na Batalha da Bretanha, foi à China enfrentar os Japas com os Tigres, voltou à Inglaterra para Pearl Harbor.
- E Roosevelt o comissionou?
- Mais ou menos. Sabe, tem uma coisa engraçada sobre toda a carreira dele. Ele disputa a guerra inteira, por mais tempo que qualquer outro Americano de ’39 a 45... e então bem perto do fim ele se perde no Pacífico, desaparecido. Nós todos pensamos que ele havia morrido por um ano. E então o encontram naquela ilha deserta mês passado, e agora ele está voltando para casa. – Ouviu-se um fino e alto ganido, como um avião em descida. Veio do céu nublado do lado de fora. Scoop puxou seu terceiro Camel.
- Como ele consegue pousar nesse tempo?
- Ele possui um conjunto de radares para todo tipo de clima... Tirou de um piloto noturno Alemão em ’43. Ele conseguiria pousar em uma lona de circo à meia-noite.
Se dirigiram para a porta. Duas luzes de pouso perfuraram a neblina esvoaçante. Se dirigiram ao final da rampa, viraram e voltaram pela faixa de taxiamento.
A fuselagem vermelha brilhou nas luzes acinzentadas da pista. O avião de asas largas e turbina dupla os rodeou e começou sua parada.
Linc Traynor pôs um par de pesos duplos debaixo de cada um dos dois trens de pouso. Metade do nariz de vidro do avião se ergueu e retornou. O avião possuía quatro canhões de 20mm sob as asas, entre as turbinas, e uma metralhadora 75mm debaixo e à esquerda da cabine do piloto.
Possuía um leme alto e fino, e os elevadores possuíam o formato da cauda de uma truta-da-fonte. Sob cada elevador havia o cano de uma metralhadora. As únicas marcas que se via no avião eram quatro estrelas da FAEEU em um escudo negro não-padronizado e o número de série JB-1 nas duas asas e sob o leme.
A antena de radar no nariz parecia algo usado para assar salsichas.
Um rapaz vestido com calças vermelhas, camisa branca, capacete azul e óculos levantou-se da cabine e se moveu em direção à escada no lado esquerdo.
Ele tinha dezenove, talvez vinte anos. Tirou seu capacete e óculos. Possuía cabelos marrons timidamente cacheados, olhos castanho-esverdeados e era baixo e atarracado.
- Linc. – ele disse. Puxou o homem rechonchudo para junto de si, acariciando suas costas por um minuto inteiro. Scoop tirou uma foto.
- É bom tê-lo de volta, Bobby. – disse Lincoln.
- Ninguém me chama assim há anos. – ele disse. – É muito bom ouvir isso de novo.
- Este é Scoop Swanson. – disse Linc. – Ele vai fazer você famoso de novo.
- Eu prefiriria dormir. – ele apertou a mão do repórter. – Há algum lugar aqui perto onde possamos conseguir presunto e ovos?

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